Do céu ao...

Pra quem reclamou do tamanho do vídeo e da falta de palavras na postagem anterior, esse vídeo é mais curto e têm algumas palavras além do título :-)

2012 foi o ano em que completei o maior desafio da minha vida esportiva. um misto de sonho realizado e sensação de dever cumprido.

Alguns poucos meses depois, me recuperando de um atropelamento enquanto "tentava" voltar aos treinos, me encontro numa espécie de "limbo". Procurando aquela vontade e aquela paixão. Não, o amor pela magrela não acabou, mas as coisas andam bem complicadas, e cada dia que passa sinto mais e mais saudades desses "dias de insanidade"



"On the descent to Nice, I realized I have accomplished the biggest challenge in my life"
Luis Otavio Duarte
Rider #335 (BRA)

LODD

Why are you here?


Comecei a escrever um pouco no avião na viagem SP-Geneve... Alguma coisa falando da preparação e o que me levou a essa prova. Depois perdi o interesse, mesmo porque ia ter muita parte técnica e muitos “porque’s” que ainda não estavam claros para mim.

Aí veio a prova... começaram as etapas, dia após dia as coisas foram acontecendo. Tentei registrar um pouco da emoção no meu twitter e facebook, como se fosse um “flash” instantâneo do primeiro resumo que vinha na minha cabeça após cada etapa. Escrever sobre isso ia acabar refletindo somente a euforia do momento, que era MUITA!

Hoje, dois dias depois de terminada essa enorme viagem, no trem rumo a Milão as idéias começaram a se acomodar... não sei se vai ser publicável, se vai fazer sentido pra alguém que não seja eu mesmo, e se as paisagens ao longo do caminho vão permitir uma seqüência lógica. Mas eu preciso arquivar essas idéias em algum lugar.

A pergunta acima, ficou martelando na minha cabeça a semana inteira, e a cada dia que passava ela parecia mais complicada de ser respondida.

Dia 18 de agosto, Sábado, estava na “Race Village” em Geneve. Logo após retirar o meu kit, estava apreciando a paisagem do lago, do jato d’água e o Mont Blanc ao fundo quando escutei meu nome ser dito pelo mestre de cerimônia no meio de um monte de palavras em Frances – fiquei preocupado que algo estivesse errado e corri no palco perguntar o que tinha acontecido.

“Vocês me chamaram?” perguntei?  “alguma coisa errada?”

“Você é o Luis Otavio Duarte? “ respondeu ele já emendando “Você acaba de ficar famoso” em tom de brincadeira.

Eles estavam falando alguns nomes e nacionalidades inscritos na prova aleatoriamente e o meu calhou de aparecer bem na hora que eu estava por perto.

“Sobe aqui, falou ele” em Frances e traduzido pela companheira dele em inglês.

Subi, e uma série  de perguntas começaram...

“Brazil? Como é treinar por lá? O que você espera da prova??” e por aí vai. Mas no meio da conversa, uma pergunta me pegou desprevenido:

“Porque você está aqui?”

Eu sei que parece óbvio. Eu amo bicicleta, fã do ciclismo, morria de vontade de pedalar onde os grandes mitos nasceram... Mas ela foi muito mais fundo. Desafio? Ahhhh.... com certeza é um motivo, mas seria ele o principal? Quantas insanidades eu já cometi com essa justificativa? Maratona, Ironman, 12h de ciclismo... Sempre somos movidos por desafios, em cada aspecto das nossas vidas...

Mas dessa vez, “desafio” não foi suficiente pra cobrir o vazio.

Durante os últimos 6 meses, eu queria estar ali. Eu treinei pra estar ali. Mais uma vez, eu esculhambei demais a família toda pra poder estar ali. Abri mão de muitas coisa para estar ali.

Mas porque?

Aquilo era ciclismo. Sim, mas não era minha praia. Embora eu tenha treinado subidas, melhorado muito nesse quesito. Perdido peso... Eu ainda estava longe de ser um atleta desse tipo de prova. E isso ficou claro no dia anterior a prova, ainda em Geneve, no briefing da prova.

Mas aquele tipo de ciclismo, foi o que me trouxe para o esporte. Ter a oportunidade de subir aquelas montanhas míticas, ombro a ombro nem que fosse com mais um ciclista, nem que fosse disputando a última posição da prova pra mim siginificava, por um momento me ver como os “grandes”. E isso pra mim passou a bastar. Passou a valer todo o treinamento, toda abdicação, todo o sofrimento.

A EUFORIA de estar no meio de um pelotão, passando pelas pequenas ruas de cidadelas francesas, e subir ombro a ombro num pelotão até que grande os 9 quilômetros do Col de Romme (primeira das 19 montanhas da semana) foi o primeiro sinal do “porque” eu estava ali.

Lágrimas escorreram do meu rosto. Uma emoção que até agora eu não consegui traduzir em palavras. Um sonho virando realidade.

As etapas se desenrolaram, dia após dia. O cansaço acumulou. Seguiram-se dias de muito mais euforia, dias de dor, dias de medo, dias de respeito, dias de muito aprendizado... dias de HUMILDADE.

Todo dia eu escrevi um pouco sobre cada etapa, publiquei meus dados. Tenho tudo guardado e, muito provavelmente, depois das minhas férias vou acabar colocando isso em ordem aqui.

Por enquanto o sentimento que fica, e que eu quero passar é o de REALIZAÇÃO PESSOAL.

E antes que me perguntem – e já me perguntaram – eu sei que ainda é cedo, mas NÃO... Eu não pretendo fazer essa prova de novo...

Eu sei que as coisas mudam. Mas hoje, o sentimento que eu tenho é de que eu não quero que uma segunda experiência possa apagar a primeira. Ou até mesmo estragar...

Estou realizado plenamente com a prova, com o esforço que eu coloquei, com o que eu me dediquei e não quero que uma 2a experiência, junto com expectativa de melhora (ou piora) possa arriscar isso. Pra mim, esse é um daqueles momentos da vida que eu queria congelar. Mas já que não é possível, vou fazer de tudo pra que ele permaneça assim. Ao invés de “meu primeiro Haute Route” vou me referir a “MEU HAUTE ROUTE”.

Essa merece...

Ser compartilhada... Vista e revista!

Duas cameras "on board" e telemetria num Crono por equipes. Pra quem (como eu) gosta de viajar em números, tem muita coisa boa pra analisar e aprender.

E como disse meu brother Dani Betito, podiam colocar algo parecido num Tour, Vuleta ou Giro, né?



LODD

#335

E bateu aquele frio na espinha... Pior do que quando eu me inscrevi pro meu primeiro IM!


Dear Luis,

We are pleased to confirm that we have now received all required documents for your Haute Route 2012 registration, as well as your full payment.

Your registration is now final for the Haute Route 2012. 

Your bib number is 335.

Please keep this email. You will need to print it out and bring it to the Village in Geneva, in order to receive your bib on Saturday 18th August 2012. The exact address and the opening hours of the Village will be confirmed later.

Going forward we will send you regular updates via e-mail to help you prepare your participation in the Haute Route. We will also send you a road-book in the weeks leading up to the Haute Route departure.

Thank you for your support of the event and we look forward to welcoming you in Geneva on 18th August 2012.

For now, best wishes for your training!

Véronique 

Véronique Joseph
Customer Service Manager

Já não sei mais se luto... ou se continuo de luto!

Era pra ser com certeza uma semana cheia de histórias e estórias pra contar e relembrar...

Após um dos finais de semanas mais bacanas em cima da bike com o início do projeto das serras do Brasil, esses com certeza seriam dias de descanso e de lavar a alma.

Incrível é que os prazeres que o esporte nos traz, esse país miserável nos tira muito mais rápido.

No domingo, ainda nas serras gaúchas recebemos a triste notícia do 1o assassinato da semana - um motorista embriagado tirou a vida de um ciclista em Floripa, terra do IM... Mesmo que fosse a terra do comando vermelho, isso não seria aceitável. Pelo simples fato de não ter sido o primeiro e nem o último (como viríamos descobrir apenas 3 dias depois)



Na terça-feira um grande atleta aqui da região teve MUITO mais sorte ao ser fechado por um inconsequente que estava brincando com a sua "máquina de destruição de massa... e ossos... e vidas..."

Graças a Deus o Bruno (Lemão) escapou somente com um braço quebrado! Mas a revolta com certeza continua em nossos sentimentos! Espero que isso não atrapalhe a grande trajetória dele esse ano na preparação pro IM!

E hoje, mais um horror! Mais um assassinato a sangue frio! Mais uma ação de um "cidadão" fruto de um país sem leis, ou com leis que não fazem a menor diferença...

É triste de ler, muito mais de compartilhar... Mas o momento de passividade já passou faz tempo.

Acredito ser essa a hora de começarmos a fazer alguma coisa, nem que seja - parafraseando a amiga Vivi de Curitiba - que "tenhamos que virar Yorkshires para termos alguma atenção da mídia ou das autoridades".


Ciclista morre atropelado por caminhão durante treino na BR-277


O Luto continua enquanto a luta começa!

Meus pêsames à todos nós

LODD